Viajar de veleiro



A maravilha de se viajar de veleiro é que basta que se decida ir para algum lugar, tudo que se tem que fazer é levantar a âncora,içar velas e ir embora.Essa sensação de liberdade é fabulosa,é quase como ter asas e voar livremente,basta bate-las.

Helio Setti Jr.

Tem que ir, ver e sentir!


"...Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu, para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor, e o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o seu próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver..."


Amir Klink



sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Noticias do Fraternidade

O comandante Aleixo Belov manda noticias
"Passei um mês em Sri Lanca, principalmente conhecendo o país e tirando o visto da Índia para a tripulação do Fraternidade. Estávamos em Galle que era um porto militar e por isso mesmo cheio de restrições o que chateava um pouco, mas terminamos nos acostumando. Em cada esquina do cais tinha um soldado com um fuzil, mas no final todos já nos conheciam.

O que mais impressionava era que as praias bonitas, estavam quase sempre desertas mesmo aos domingos. Depois de muito pesquisar, descobri que o tsunami que passou por lá em 2004, matou todo mundo que morava na beira da praia e que gostava de mar. O mar passou a ser olhado pelos novos moradores com desconfiança, e mesmo aos domingos são raros os banhistas.

A ilha, que passou por 30 anos de guerra, só tem 1 ano de paz. Os orçamentos militares ainda estão em vigor e só agora estão sendo aos poucos desmontados e voltados para o bem estar da população. Ainda gasta-se muito com os prisioneiros de guerra em colônias penais, onde tenta-se readaptá-los para a vida civil. Tem gente que aos 40 anos nada fez a não ser atirar. Com o fim da guerra, nem sabem o que fazer com a vida.

As mulheres são bonitas, mas intocáveis para os estrangeiros.

As religiões aqui se dividem em hinduístas, muçulmanos, cristãos e principalmente budistas. Templos budistas proliferam por toda parte, e eu mesmo que visitei alguns senti muita paz no seu interior, dava vontade de ir ficando mais. Buda não é considerado divino e sim apenas um homem iluminado. O budismo é bem aceito até pelos devotos de outras religiões.

De Sri Lanca mantivemos contato com Lo, do Vasco da Gama Rally, que está em Cochin, Índia, organizando um grupo de uns 20 veleiros para atravessar em conjunto a zona dos piratas. Ele pesquisa sem parar onde os piratas estão atuando e diz que mantém contato e boas relações com as autoridades que podem ajudar em caso de sermos atacados. Creio que no Rally pode ser até mais seguro, mas as coisas devem se passar mais ou menos como nos filmes do Discovery Chanel. Quando o leão se apodera de uma preza, as outras correm e dão graças a Deus por não terem sido escolhidas. O inicio do rally já tinha data marcada, sair de Cochin dia 20 de janeiro, e quem quisesse aderir, teria que se adaptar ao cronograma. Esta data tem suas razões, a inversão das moções de SW para NE, que torna a viagem até o Mar Vermelho mais agradável e mais rápida. Tendo decidido com a tripulação de aderir ao Rally e já tendo o visto da Índia nas mãos, deixamos Siri Lanca com destino a Índia, exatamente Cochin, onde chegamos no dia 23 de novembro. Lo nos recebeu na Bolghatti Marina, em frente ao Bolghatti Hotel e ajudou a passar os cabos. Eu estava de volta a Índia depois de 24 anos, desde a minha segunda volta ao mundo.

A Índia com seu bilhão de habitantes parece estar crescendo muito. Um pais com quatro vezes a população do Brasil, enquanto nós tentamos fazer o Mercosul funcionar, a Índia já tem um mercado interno maior que toda a América do sul, está do lado da China e ainda não aderiu totalmente a sociedade de consumo. Almoçar aqui pode custar 1 dólar, 2 dólares, e nós almoçamos com sobremesa e tudo por 3 dólares. Ninguém cozinha mais a bordo. Cozinhar dá prejuízo. Aqui não falta mão de obra e tudo ainda é barato. Comprei roupa por um quinto do que pagaria no Brasil.

 Não tem quem concorra com a Índia e a China. Eles estão tomando todos os bons contratos que os europeus e os americanos tinham na África e no restante do mundo. É fácil entender. Só para sobreviver, o homem gasta muito pouco. Gasta-se mais com o supérfluo. O americano só usa carro grande, tem casa de praia, viaja a toda hora, faz guerra para todo lado para vender armas e agradar a quem financiou a campanha e por último ainda come mais do que deve. Fica caro e pouco competitivo. Os sindicatos conseguiram tantas vantagens, que cada dia se trabalha menos, e as indústrias perderam competitividade e estão fechando dando lugar ao desemprego. Este movimento só começou, e ainda vai doer bastante no Ocidente até as coisas se reequilibrarem. As grandes empresas de tecnologia de ponta ainda estão bem, mas a turma do Oriente é inteligente e está encostando. O capital não tem pátria, e a tecnologia se vende a quem pagar melhor. As próprias empresas do Ocidente estão montando suas fabricas na China e na Índia e concorrendo com as que ficaram em casa.

Viajando pelo sul da Índia, no estado de Kerala, fiquei encantado com a fertilidade do solo. Estava tudo muito verde, não tinha um só pedaço de terra erodida. Coqueiros e bananeiras para todo lado, seringueiras, cacau, café, todo tipo de frutas, especiarias e arrozais a perder de vista. Apesar da grande população, a Índia consegue alimentar seu povo. Também nenhum estrangeiro pode comprar terra na Índia, é lei. Eles precisam dela para alimentar o seu povo. Muitas montanhas com suas plantações de chá, muita neblina, muita água e cachoeiras para todo lado.

O povo é bastante tranquilo. Pelo hinduísmo existe o carma, tudo que se faz de bom ou ruim é anotado e a pessoa paga. Quem faz o mal não se da bem. Talvez seja por isso que aqui praticamente não tem violência. Não podia deixar de aproveitar e passar 3 dias em um Ashram, onde pratiquei Yoga e tive aula de meditação. Recebi um passe de Amma, considerada uma pessoa para lá dos humanos.

Andando no ônibus vi um passageiro que estava em pé, pagar e guardar a carteira no bolso de traz de forma que ela estava parcialmente de fora. Aqui não deve ter batedor de carteira, senão os hábitos teriam mudado. Todo mundo anda de sandália, raros usam sapato, e tem lixo acumulado para todo lado. Como eles não varem as ruas, quando o carro passa levanta muita poeira e os pés com sandálias ficam sempre sujos, tanto dos homens como das mulheres. Os homens usam roupas simples enquanto que as mulheres com seus sáris parecem estar sempre embrulhadas para presente. É um mundo de tecidos coloridos e colares. A pele sempre escura e os cabelos sempre longos, lisos e bem arrumados. Os traços do rosto variam, mas algumas são muito lindas, a ponto de nos deixar boquiabertos. Mas, elas são muito reprimidas. Quase não podem falar com os estrangeiros que os homens do lado as olham com maus olhos e elas se recolhem. Mas se a rua esta deserta, elas falam e soltam um sorriso lindo.

 Estou me preparando para seguir em frente. Ainda vou parar em Goa, Jaygarth e Mumbai na Índia. Depois Oman e Yemen que fica em frente a Somália. Toda esta região está sujeita a ataques de piratas. Em seguida o Mar Vermelho, Eritréia, Sudão, Egito, Turquia, Grécia, Istambul e finalmente Odessa, na Ucrânia, onde nasci antes de voltar ao Brasil. Assim que passar pela área de piratas vou embarcar uma nova turma de alunos. Aproveito para desejar a todos meus amigos que amam o mar, um feliz 2011. Se tudo der certo, a gente, antes do final deste ano, se vê por ai."


 Mais uma pirateada do blog do Maracatu 

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