Viajar de veleiro



A maravilha de se viajar de veleiro é que basta que se decida ir para algum lugar, tudo que se tem que fazer é levantar a âncora,içar velas e ir embora.Essa sensação de liberdade é fabulosa,é quase como ter asas e voar livremente,basta bate-las.

Helio Setti Jr.

Tem que ir, ver e sentir!


"...Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu, para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor, e o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o seu próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver..."


Amir Klink



segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Jamais desista dos seus sonhos...

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Um homem velejador...

Minha história poderia ser como a de muitos outros velejadores se não fosse contada por um sujeito completamente desconhecido, que não era sócio de um clube de vela, tampouco proprietário de um barco ou amigo de velejadores...

Mas como cada um de nós escreve sua própria história, decidi deixar de lado todas essas dificuldades impostas para transformar um sonho em realidade: tornar-me um corredor de regatas.

Minha relação com a água vem de longa data, comecei a surfar com 12 anos e desde então minha relação foi de uma intimidade ímpar.

Quando não estava surfando, estava nos barcos pesqueiros passeando pelo litoral paulista graças aos meus amigos que em sua grande maioria eram filhos de pescadores e aos poucos iam me ensinando sobre o vento, as correntes, as marés e as ondulações.

Com o passar do tempo aquela limitação do litoral paulista em função da minha pouca idade foi avançando e acabei por surfar toda costa brasileira, mas além do surf as embarcações sempre me atraiam, andava, andava e sempre acabava parando num píer para ficar perto de um barco e tanto fazia o tipo, até uma canoa cavada a fogo me atraia, era o meio de transporte que me interessava, meus valores corriam por suas linhas e quanto mais perto ficava mais prazer sentia.

Mas esse prazer sempre tinha hora para acabar, pois ele acontecia nos finais de semana quando viajava de São Paulo para o litoral, minha segunda casa.

Passava a semana estudando e trabalhando, mas o prazer de chegar o final de semana e ficar na água era algo que fazia qualquer pressão se tornar imperceptível.

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Os anos foram passando e em determinado momento da minha vida mudei-me para Porto Alegre, como sempre estive muito perto da natureza meu estilo de vida me levou a zona sul e lá pude ver os barcos bem de pertinho.

Sentia um imenso prazer ao passar todos os dias em frente aos clubes e ver aquelas dezenas de veleiros. Sentia que uma parte de mim estava ali, no esporte, na água, nos amigos...

Coincidência ou não, alguns anos mais tarde conheci um velejador olímpico e um dia numa conversa curiosa sobre o seu esporte perguntei-lhe como deveria proceder para tornar-me um velejador..., até então só havia navegado em São Paulo com amigos e familiares em veleiros tripulados por marinheiros.

Ele me disse que deveria fazer uma escolinha, que indico e acho que é o correto...

Tentei por duas vezes o curso, mas infelizmente não aconteceu por falta de volume de inscritos e foi entre uma tentativa e outra que surgiu uma oportunidade para tripular num monotipo, imaginem um leigo completo e absoluto num monotipo com um milhão de regulagens correndo uma regata, sim, minha primeira experiência na vela foi numa regata!

Nomes que eu nunca havia ouvido, funções e comandos que eu desconhecia por completo, uma confusão...

Mas mesmo sendo completamente cru, meu timoneiro me deu a chance de aprender e agarrei com unhas e dentes essa oportunidade. Foram dias de frio e chuva e alguns deles desmontando mastro e descobrindo que os detalhes importantes só são conhecidos dessa maneira. Em outros dias lavávamos o barco, passávamos as escotas, checávamos as adriças, muitas vezes no seco.

Navegar mesmo, só em regata, meus treinos eram realizados no seco, treinava os ouvidos, queria conhecer cada peça, cada nome, cada função, queria conhecer a textura de cada cabo e entender por que tinham diâmetros diferentes.

O barco para mim tinha alma e entende-la faria das minhas regatas uma diversão que me traria o mesmo prazer do surf.

Corri muitas regatas, me fazia presente em todas possíveis e fazia anotações de tudo o que eu ouvia, mais orçado, mais arribado, popa raso, lais de guia, nó direito, nó oito, nós importantes para se usar no barco, comprei e tenho até hoje um metro de cabo para treinar os nós que aprendo.

Com o tempo meus ouvidos se familiarizaram com todos os termos náuticos e já executava as manobras com mais facilidade, entendia a seqüência de cada função do barco, automaticamente fui percebendo onde queria executar cada manobra e logo surgiu a oportunidade de correr regatas em barcos de oceano onde pude aplicar tudo o que o monotipo me proporcionou aprender.

Nos barcos de oceano tive a chance de conhecer mais sobre a navegação além das bóias de barlasota.

Aprendi a navegar por instrumentos e pelas estrelas, passei dias navegando e conhecendo a vida a bordo em alguns poucos metros quadrados.

Logo surgiu a oportunidade de correr regatas de oceano e mais uma vez estava na raia.

A bordo de veleiros de oceano conquistei alguns títulos, o que me trouxe um grande prazer não só pelos títulos, mas por saber que fui capaz de aplicar tudo o que havia aprendido anteriormente.

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Hoje posso dizer que basicamente corro regatas, nunca fui convidado para uma velejada, mas tive a sorte de ter sido sempre convidado para regatas e isso me leva a crer que, sim, os sonhos devem ser perseguidos por mais difíceis que eles possam parecer.

Desejo à todos um Feliz 2011 com muita paz e bons ventos, Ricardo Machion.

Texto extraido do Diario de Bordo da pag. do Veleiros do Sul

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