Viajar de veleiro



A maravilha de se viajar de veleiro é que basta que se decida ir para algum lugar, tudo que se tem que fazer é levantar a âncora,içar velas e ir embora.Essa sensação de liberdade é fabulosa,é quase como ter asas e voar livremente,basta bate-las.

Helio Setti Jr.

Tem que ir, ver e sentir!


"...Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu, para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor, e o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o seu próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver..."


Amir Klink



domingo, 2 de janeiro de 2011

Reflexão para o ano novo

Achei esse texto do Nelson no Diario do Avoante e resolvi usa-lo como reflexão para 2011


"As lições que aprendi no mar
Quando fiz a opção de morar a bordo de um veleiro e viver essa vida de cruzeirista, navegando pelo litoral brasileiro, foi por acreditar que a vida tinha novos horizontes e não somente aquele que, até então, eu estava acostumado a viver. Tinha certeza que um mundo novo estava erguido além daquele horizonte traçado pela linha entre o céu e o mar. 

Vivia uma correria desenfreada e sem controle, num mundo que a cada dia cobrava mais. As pessoas vivendo uma deslumbrada e explícita luta de competição, corroendo personalidades e jogando por terra sólidos castelos de honradez e amizade, num simples piscar de olhos.
Fui testemunha de quedas e tropeções proporcionados por puxadas propositais de tapetes, como se a vida se resumisse nessas pequenas e fortes covardias. O mundo era assim e assim tinha que continuar! Nenhuma alma viva se solidarizava com o derrotado e até lhe fazia chacotas. Uma breve e fugaz desculpa era a senha para o agressor ficar de bem com o mundo e seus pares. Se a desculpa não fosse aceita de pronto, o caído, mais uma vez, estava condenado a ficar jogando ao chão e sendo olhado de través. Mundo cão? Não! Essa era a regra de felicidade e prosperidade. Quem caiu, trate-se de levantar sozinho!
Embarquei no sonho colorido do mundo náutico, procurando ajustar as velas num rumo que me levasse a fugir de toda essa cachoeira de vaidades, que semeia prosperidade, mas que afoga a razão e a ética.
Embarquei me espelhando em histórias de vidas, que se transformaram em verdadeiros contos de amor e paixão, num mundo cada vez mais sem amor.
Embarquei com o coração livre para aceitar os ventos, contra ou a favor, mas que me deixasse tirar a prova de que a rota escolhida era a de paz, amor e amizades sinceras.
Embarquei para fugir da grande regata que a vida estava me forçando a participar, mas que eu não tinha barco e nem velas para acompanhar. Queria a tranqüilidade de uma velejada descontraída, sentir o sopro suave do vento em minha pele. Queria a água do oceano chuviscando em meu rosto e sentir o gosto do sal escorrendo em meus lábios. Queria ter a liberdade de alterar, ao bel prazer, o rumo de minha proa e me encantar com a paisagem que surgisse diante dessa decisão.
Queria seguir com as nuvens, ser empurrado pelos ventos e ter o mar como passarela. Queria o endereço da próxima nuvem, na esquina de uma mudança de vento. Queria o mar, simplesmente o mar.
Tudo isso, e muito mais, foi conseguido nas muitas rotas navegadas. A vela me proporcionou, e ainda continua proporcionando, alegrias e boas amizades. Mas o mundo urbano continua o mesmo, e sempre me deparo com situações embaraçosas, criadas num mundo cerebral viciado e focadas na luta da competição.
Do meu cantinho no cockpit do Avoante, costumo observar o cotidiano da vida. Frases entrecortadas pelos ventos chegam através de um eco distorcido, ferindo minha alma que observa e que baixa a cabeça em respeito a tanta insanidade.
Com todas as forças, a razão grita por uma nova ancoragem, acostumada a não aceitar os ditames patéticos das vaidades abstratas e sem sentido. Mas a ética, que ultimamente anda meio distraída e vacilante, pede calma, e assim a balança da vida vai sendo corroída por pesos e contrapesos apodrecidos.
Que mundo é esse que não acorda para a facilidade da amizade sincera e verdadeira? Que não descobre que é mais fácil ser feliz do que disputar no grito a razão? Que mundo é esse que joga fora todo um trabalho de alegrias e vitórias e se embrenha no submundo da intriga?
Esse tipo de mundo eu não quero mais para mim, pois a vela, o vento e o mar me mostraram outro mundo, um mundo mais. Mais humano, mais simples, mais leal, mais ético, mais vivo, mais natural e mais amigo. Um mundo sem fronteiras e sem barreiras. Um mundo onde tudo pode acontecer, menos a deslealdade.
Hoje eu prefiro as surpresas da vida, pois através delas fortaleço minha auto-estima. O mar esta me chamando!"
Nelson Mattos Filho
Velejador

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