Viajar de veleiro



A maravilha de se viajar de veleiro é que basta que se decida ir para algum lugar, tudo que se tem que fazer é levantar a âncora,içar velas e ir embora.Essa sensação de liberdade é fabulosa,é quase como ter asas e voar livremente,basta bate-las.

Helio Setti Jr.

Tem que ir, ver e sentir!


"...Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu, para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor, e o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o seu próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver..."


Amir Klink



domingo, 11 de outubro de 2009

Velas: veja os diferentes modelos e as principais características de cada uma

Num veleiro, o combustível é o vento, mas o verdadeiro motor são as velas, que, por isto mesmo, merecem todo cuidado e atenção.
Velejar com eficiência, aproveitando todo o potencial de uma vela, é uma arte dominada por poucos e só aprendida à custa de muita prática. Mas, mesmo que o desempenho não ocupe o topo das suas prioridades, há certas coisas que todo velejador precisa saber. Por exemplo, que o conceito de que o vento “empurra” um veleiro só vale para ventos de popa! Nas demais situações, o que acontece é um fenômeno semelhante ao que ocorre com as asas dos aviões, com o ar fluindo em diferentes velocidades nos dois lados da vela,o que cria uma zona de baixa pressão numa das superfícies (por onde o ar passa mais rapidamente) e de alta na outra (onde o fluxo é mais lento). Resultado: o barco é sugado para o lado de menor pressão. Mas a interação do vento com as velas gera, também, forças em direções distintas, que tanto impulsionam o barco adiante quanto lhe conferem uma tendência a se mover lateralmente, além de inclinar ou adernar. No contravento, quando as velas ficam mais alinhadas no sentido proa–popa, a força adernante é maior do que a força a vante e é justamente nesta situação que a quilha e o leme tornam-se úteis,porque opõem resistência ao adernamento. Então,da combinação destas forças contrárias surge uma outra,que faz o barco seguir na direção do comprimento do seu casco e do alinhamento da quilha.Complicado? Nem tanto assim.

Difícil mesmo é entender por que,a despeito de todo o incrível desenvolvimento dos veleiros de competição, os barcos de cruzeiro ainda navegam apenas um ou dois nós acima da velocidade do barquinho de Joshua Slocum,que no século 19 foi do Brasil aos Estados Unidos a cerca de 4 nós. A explicação, porém, está no fato de que os barcos de cruzeiro carregam mais peso, seja pelo conforto necessário a quem os usa, seja pela segurança que devem oferecer. E peso não combina nem um pouco com velocidade, que anda sempre de mãos dadas com a leveza e em geral, também, com a ousadia e radicalidade na concepção e construção, quer se trate de avião, automóvel ou barco.

Já no campo da competição a história é bem outra. O progresso foi brutal nos últimos tempos, embora a lógica que conjuga cascos leves com a maior área vélica possível para obter altos desempenhos jamais tenha mudado. No passado, os navios comerciais a vela, conhecidos como clíperes,atingiam incríveis 20 nós. Hoje, no entanto, os veleiros de regata com a metade do tamanho e área vélica deles já passam fácil dos 30! (e vale lembrar que, quanto maior o comprimento do casco na linha d'água, maior a velocidade de um barco a vela!).Além disso, as velas ficaram imensamente mais resistentes, eficientes, leves e fáceis de manejar, graças à adoção de materiais e tecnologia aeroespacial, o que permitiu a introdução de conceitos revolucionários na sua confecção. No entanto, seu uso freqüente continua fazendo com que elas percam a forma original e, junto com isso, parte da eficiência.Assim, quanto mais performance um velejador desejar, mais atenção deve dar às velas de seu barco.

Cada vela é um caso
A princípio, as velas determinadas pelo projeto do próprio barco serão sempre as melhores para ele. Porém, na hora da troca, cabe ao dono decidir mudá-las ou não, dependendo do seu perfil ou do que pretende para o veleiro. Assim, se as velas originais sempre funcionaram bem e você prefere não arriscar mudando aquilo que já estava bom, basta passar as medidas à veleria que irá confeccionar as novas velas. Mas, se achar que elas poderiam ser melhores, explique exatamente onde e em que condições pretende usá-las.

Para cada tipo de navegação, há pelo menos um formato e material mais apropriado. Por exemplo, em locais onde venta muito, as velas de formato achatado são as mais indicadas. Já quando o vento é fraco, o melhor é usar velas gordas, com profundidade maior, para obter mais potência. As velas mais abauladas fazem o barco adernar mais, mas isto nem sempre é um problema. Aliás, é até uma solução para quem tem um barco pequeno, veleja sozinho e está acima do peso, já que uma vela um pouco barriguda pode funcionar como um contrapeso. De qualquer forma, convém dar o máximo de informações possíveis à veleria e decidir, junto com ela, qual a melhor vela para você e seu barco.

Características básicas de velas para um veleiro padrão

Mestra:
Como deve ser?

Bem grande e, se for para navegação perto da costa, com pelo menos duas forras de rizos bem espaçadas — a primeira deve ser bem alta, para, quando precisar fazer isto, a redução da vela ser bem perceptível. O melhor é que a esteira seja presa apenas pelos punhos na retranca, em vez de passar numa canaleta. Além de mais simples, esta é uma forma de evitar o atrito e ter mais possibilidades de regulagens do formato da vela.
Como ela pode ficar melhor?
Aumentando o aluamento, ou a curvatura da valuma, o desempenho do barco pode melhorar.Velas com “barriga” aumentam a tendência à orça, coisa que pode ser corrigida deixando as velas mais achatadas. Já se o barco apresentar tendência a arribar, pode ser sinal de que as velas estão muito achatadas. Lazy jack e talas do tipo full batten (que vão da valuma à testa) facilitam o recolhimento e ajudam a manter a forma da vela.
Desvantagens?
Um aumento no aluamento da vela também aumenta a tendência à orça.Talas full batten limitam a regulagem da vela.
Qual material?
Dacron, para barcos de cruzeiro de até 40 pés. Acima disto e para barcos de competição, os tecidos laminados, como o Pentex e Kevlar, oferecem maior leveza e resistência.

Genoa
Como deve ser?
A tendência atual é usar velas tipo buja, com esteira que não avança muito para trás do mastro, para facilitar as manobras., nos barcos de cruzeiro, se tiverem enrolador, melhor ainda.Velas que não são de enrolar devem ter reforços nos encaixes dos mosquetões que as prendem nos estais.
Como ela pode ficar melhor?
Se usar enrolador e pretender navegar em mar aberto, convém ter, também,ma vela de tempestade enrolada num segundo estai mais a ré, que pode ser móvel em vez de fixo. De qualquer forma, com ou sem enrolador, é bom levar sempre uma vela de proa sobressalente nas viagens acima de 500 milhas. Além disso, é conveniente que a vela tenha bichas ou cadarços para amarrar e regular a “barriga” da vela e pares de birutinhas (fios ou fitinhas) perto da testa para ajudar na regulagem. Se for de enrolar, deve ter reforço com espuma na testa para manter o seu formato quando rizar e proteção contra os raios UV na valuma e esteira.
Desvantagens?
Comparadas às genoas que correm em canaletas, usadas em barcos de regata, as de enrolar têm menor performance na orça.
Qual material?
Os mesmos empregados na confecção de velas mestras.

Spi Simétrico
Como deve ser?

Sempre de tecido leve e maleável e com testa e valuma do mesmo comprimento. Atualmente, é confeccionado com cortes radiais combinados com painéis horizontais. Seu tamanho supera, geralmente, o da mestra e genoa juntos. Substitui a genoa nas regatas, para aumentar a velocidade com vento de popa. É armado na frente do estai de proa, por fora do barco, e preso pelos cantos da vela, com o punho da amura (sempre o de barlavento) amarrado a uma retranca chamada pau de spinnaker. Como fica bem cheio, é mais conhecido como “balão” e, também, como “spi”. Nos jibes ou cambadas em roda com vento em popa, é mantido cheio, enquanto se solta o pau de spinnaker para mudá-lo para o outro bordo.
Como ela pode ficar melhor?
Com acessórios que aumentem a rapidez do trabalho de içar e recolher a vela, como a camisinha, que o recolhe automaticamente.
Desvantagens?
Dá trabalho para ser armado e, por ser muito grande, seu manuseio requer perícia, além do uso de equipamentos próprios, como o pau de spinnaker, que, quando fora de uso, ocupa espaço. Além disso, só é bom com vento em popa. Por isso, nem pense em mudar de direção com vento pela proa quando usar uma vela destas.
Qual material?
Náilon ou poliéster.

Spi Assimétrico ou Gennaker
Como deve ser?

Parecido com um spinnaker simétrico, mas com testa maior que a valuma e o punho da amura preso bem na proa ou no gurupés. É usado em barcos de competição e cruzeiro, em geral com ventos fracos, entre o través forçado e a alheta folgada. Ao contrário do que muita gente pensa, o gennaker não é um spinnaker assimétrico. A diferença está na curvatura da vela, que faz o gennaker mais apropriado para ventos aparentes entre 50 e 110 graus. Por isso, é menor, mais achatado e pode ser usado com enrolador. Já o spinnaker assimétrico serve para ventos aparentes de ângulos entre 60 e 150 graus.
Como ela pode ficar melhor?
Com duas escotas bem compridas, que serão úteis nos jibes. Se o barco tiver gurupés, o punho da amura deve ser preso nele,para ficar longe da mestra. O cabo que passa pelo punho da amura deve ser regulável, para ajustar a testa da vela na orça apertada e soltá-la para que ela gire pela frente do barco com vento de popa.
Desvantagens?
Com vento de popa, não é tão bom quanto um spinnaker simétrico. Não se deve usar uma vela destas com o tempo prestes a piorar, porque o barco pode ficar difícil de controlar.Deve-se evitar, também,orças muito apertadas e com vento mais forte, para o barco não perder o rumo. E, se tentar cambar com vento pela proa, a vela pode enroscar nos cabos e cruzetas e rasgar.
Qual material?
Náilon ou poliéster.

G Zero e Code Zero
Como deve ser?
O G Zero é a versão para cruzeiro do Code Zero, um tipo de gennaker muito eficiente no contravento, em orça folgada com ventos fracos, desenvolvido pela veleria North Sails para o barco EF Language, campeão da Volvo Ocean Race em 1998. Na verdade, eles se parecem mais com uma genoa giagante do que propriamente com um gennaker, porque são bem menos “gordos”. Neste tipo de vela, a testa fica sempre muito tensionada, de forma que a carga no ponto de fixação do punho da amura é descomunal. Por isso, nem um nem outro usa pau de spinnaker. E tem mais: se quiser prendê-los no gurupés ou na plataforma da âncora, consulte o fabricante do barco para saber se ele agüentará o esforço. O mais recomendado, neste caso, é usar um enrolador.
Como ela pode ficar melhor ?
Não caçar demais. Estas velas são mais eficientes quando soltas, mas no limite, sem panejar.O corte deve ser radial, porque distribui muito melhor os esforços e não deforma tanto quanto os painéis horizontais.
Desvantagens?
Preço alto
Qual material?
Laminados de poliéster ou polietileno

Por Regina Hatakeyama
Da Revista Náutica 217

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